“nasci adulta e morrerei criança”, disse ela. Agustina carrega
a dor de crescer como um dente que perfura a gengiva para surgir depois da
superfície, além da carne. Agustina utiliza o irónico para penetrar o real,
dividindo-o, individualizando-o. mas nele não habita porque foge ao tempo
e ao espaço. Agustina inquieta-se porque quer comunicar. Agustina ironiza
porque é caprichosa. e cáustica. e ácida. Agustina questiona, sem obter
descanso na resposta. Agustina problematiza o absurdo porque lhe serve de bengala
para explicar o contraditório. Agustina é mulher porque veste a feminilidade para
despir os pré-conceitos do feminismo. Agustina não faz amor porque se deixou possuir
pela ideia da amargura. Agustina sugestiona a paixão, como coisa viva que
massacra. Agustina dispensa o homem viril porque tem força primordial. Agustina
é indomável como qualquer criança antes de aprender a contenção Agustina evoca a culpa para
crescer. como princípio moral, estruturante. mas Agustina ri. como uma criança.
Agustina Bessa-Luís, menina burguesa e caprichosa, escreveu
dezenas de livros de 1948 a 2006. Vive ainda. Mas poderia morrer que viveria mais.Agustina foge do convencional para se sentir normal. Agustina genial!